O presidente quer acabar com o nome “Bolsa Família”, marca dos governos petistas, e colocar alguma outra coisa qualquer no lugar. Para isso, ele e sua equipe econômica não medem esforços e não se cansam de passar vergonha em público.
Há algumas semanas, no dia 15 de setembro, Bolsonaro deu uma bronca pública em sua equipe e proibiu qualquer um de falar em “Renda Brasil” até o fim de seu mandato. O esculacho geral aconteceu depois que o Ministério da Economia “vazou” a informação de que pretendia congelar aposentadorias para pagar a conta do novo programa social.
Seria melhor que Bolsonaro tivesse cumprido sua própria promessa e deixado de lado a ideia de substituir o Bolsa Família. Porém, alguém convenceu o presidente a mudar de ideia e se expor novamente.
Bolsonaro então trocou o nome de “Renda Brasil” para “Renda Cidadã” – pois tinha proibido de falar no nome antigo do programa; vestiu a roupa de pai dos pobres e foi queimar a cara na frente das câmeras. Numa hora dessas deve estar em casa, praguejando contra quem o convenceu a esta nova aventura.
O vexame da vez foi utilizar o Fundeb e adiar o pagamento de precatórios para arrumar dinheiro para o novo programa. Não gastou nem meia hora para a Bolsa de valores despencar, o dólar subir e o TCU, junto com o Ministério Público, levantarem dúvidas sobre a legalidade da proposta.
O problema é que, na prática, o governo Bolsonaro está criando uma dívida e não diz de onde vai tirar o dinheiro; apenas adia uma conta para pagar outra.
A proposta é atrasar o pagamento de dívidas com precatórios e o repasse de recursos do Fundeb para Estados e Municípios e, com o dinheiro que sobrar, criar o novo programa social. Contudo, de acordo com operadores do sistema financeiro, isso significa criar déficit fiscal que uma hora terá que ser pago.
Na Câmara dos Deputados a palavra que ronda os corredores e amedronta defensores de Bolsonaro é “pedalada”.
Do ponto de vista de alguns membros do TCU, a proposta “criativa” do governo nada mais é do que uma “pedalada”, tal qual a utilizada como justificativa para o impeachment da presidente Dilma. Não seria ilegal, mas questionável.
Não seria a primeira acusação de pedalada no governo Bolsonaro, mas dessa vez a coisa é tão “criativa”, que talvez seja necessária intervenção do TCU para salvar a pele do presidente antes que ele e sua equipe levem pra frente esse “equívoco fiscal”.
A situação na bolsa de valores vinha melhorando desde que acharam Queiroz na casa do advogado da família Bolsonaro e uma boa alma sensata convenceu o presidente a ficar mais caladinho e menos briguento.
Porém o esforço foi por terra. No fim do dia, a bolsa tinha caído 2,41% e o dólar batido R$5,63, o maior valor em quatro meses.
Repercussão Política
Um dos primeiros a se pronunciar foi Rodrigo Maia(DEM). Em rede social, o presidente da Câmara afirmou que a “indefinição [sobre o teto de gastos públicos] pode provocar mais uma crise que vai impactar a vida dos brasileiros, adiando ainda mais a recuperação econômica provocada pela pandemia”.
Parlamentares da oposição também se posicionaram e aproveitaram a proposta para criticar o governo. O deputado mineiro Rogério Correia(PT) disse que o governo Lula criou o Bolsa Família e estabeleceu a matrícula em escola como uma das condicionantes para as famílias beneficiadas tinham de ter crianças matriculadas nas escolas. “Ou seja, foi um programa de combate à miséria que ainda estimulava o estudo”, disse. Agora, na opinião do parlamentar, o governo tira da educação e prejudica quem mais precisa, “por revanchismo”.
Nas redes sociais do presidente, o assunto ainda não foi repercutido.
O anúncio do programa foi programado com toda pompa e contou com a presença de líderes de partidos aliados, ministros de várias áreas, assessores especiais e imprensa. Porém, agora a noite, o assunto já não estava entre os destaques da Agência Brasil, site oficial de notícias do governo federal.
foto: Agência Brasil
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